Em artigo publicado na ZH de ontem (26), o deputado
Adão Villaverde destaca que não podemos deixar que o fundamentalismo baseado no
ódio e na intolerância ocupe o lugar das legítimas tradições plurais e
democráticas.
Abaixo, a íntegra do texto.
Uma vertente para o fascismo
* Adão Villaverde
Quando se
debate, em evento público, a intolerância e o ódio que salta do mundo real para
disseminar-se no anonimato do mundo virtual, presume-se que todos participem
com espíritos desarmados, aceitando divergências e se manifestando
adequadamente.
Se tiver
diferenças, que dê opinião, sem apelar à agressão e ao desrespeito aos
interessados. Foi o pressuposto da oportuna iniciativa da deputada Manuela
D’Àvila, na Assembleia, na semana passada, ao ouvir jornalistas e cidadãos
sobre como entender o ódio e a intolerância nas redes.
Surpreendentemente,
desconsiderando a legitimidade das diferenças, um grupo se esmerou em cercear
opiniões e interditar a atividade, demonstrando na prática presencial o que faz
nas redes, em manifestação explícita de supressão do pensamento do outro.
Lamentavelmente, falta a alguns pretensos liberais de hoje, aquilo que sobrava
aos de outrora. Estes trocaram a essência do liberalismo pela violência e
quebra de regras mínimas de convivência.
Na democracia,
não se pode tudo, muito menos negar ao outro o direito do contraditório, ainda
mais com práticas fascistas e regressivas. É como se perguntava a filósofa
Hannah Arendt, emOrigens do totalitarismo: “como aceitarmos o
inaceitável, a inutilidade da existência e a recusa ao outro?”
Sabemos
que a intolerância é vizinha do ódio e parente da violência, que ultrapassa,
com perversa naturalidade, todos os limites do respeito e da aceitação dos
diferentes. Deve, portanto, ser repudiada, venha de onde vier. Omitir-se ou
justificá-la, assegurando-lhe impunidade, é acumpliciar-se a ela.
Expressão
maior das representações políticas da sociedade, em nome do direito de opinião
e das diferenças, o Parlamento não pode ser espaço para promoção dessas
práticas. Devemos evitar que este fundamentalismo desprovido de conteúdo, que
faz uso de métodos com opção pela violência, ocupe o lugar das legítimas
tradições plurais e democráticas, tão duramente construídas nas últimas
décadas, quando a Assembleia teve papel fundamental.
Ou,
doravante, deixaremos caminho aberto para o interdito das sempre salutares
pluralidade de ideias. Autorizaremos que se instale, em solo gaúcho, o arbítrio
e a prepotência do delito de opinião, que fere as liberdades individuais e
coletivas e alveja de morte o Estado democrático de direito.
* Engenheiro,
professor e deputado estadual (PT-RS)
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